quarta-feira, 11 de março de 2009

José Pinto-Coelho em entrevista ao Fórum Pátria



P: O José descende de várias personalidades que marcaram a História de Portugal nos últimos dois séculos . A sua ascendência familiar pesa nas decisões que toma?
R:Tenho um bom punhado de antepassados que participaram activamente na vida política, sim. Orgulho-me de muitos deles, já que fazendo a fácil extrapolação, vivendo nessa época eu teria sido correlegionário desses meus familiares. Uns foram da situação e outros contra.
Mas a minha ascendência familiar remota não pesa rigorosamente nada nas minhas decisões até porque tive antepassados dos quais nada me orgulho. E quanto àqueles com quem convivi, é natural que de certa forma tenham moldado o meu modo de ser. Mas as decisões não.
Se decidi abraçar esta missão, difícil e incerta, isso deve-se ao meu amor a Portugal e à minha profunda convicção Nacionalista. Alguém tinha que se chegar á frente. Entendi ser um deles.

P: Fez parte de vários projectos de cariz nacionalista durante os anos 80. Que diferenças reconhece entre o nacionalismo dessa altura e a realidade actual do nacionalismo português?
R:Só tomei parte activa em 1980, ingressando no Movimento Nacionalista e participando em acções de propaganda política e manifestações ligadas ao 1º de Dezembro (da Vera Lagoa), 10 de Junho (do MN), e campanha eleitoral pelo MIRN. Conheci também alguns elementos da Ordem Nova e a sua sede, na Rua Tomás Ribeiro, na primeiríssima fase do meu envolvimento activo. Colaborei também alguns anos na Revista do Jaime Nogueira Pinto, a Futuro-Presente, que à época era vincadamente um órgão de formação Nacionalista.
Para se falar em diferenças entre o Nacionalismo de então e o de agora, é preciso ter-se claro que passaram 30 anos. Mais de uma geração. Por isso há diferenças a diversos níveis.
É preciso, desde logo, perceber-se que nessa época – finais dos anos 70 e princípios dos 80 – vivia-se em Portugal um ambiente em que toda a população respirava política. Era quase que uma embriaguez. Por estranho que possa parecer aos jovens de hoje, há 30 anos atrás era normal uma pessoa ostentar ao peito autocolantes políticos, pins ou t-shirts em qualquer momento. Em época de campanha eleitoral nem se fala… As pessoas tinham o seu autocolante ao peito, sempre. Os carros de som eram mais que muitos. As listas afectas a partidos e movimentos políticos nas escolas eram o normal. É nesse contexto que existiu com uma certa pujança na luta nacionalista, travada por aqueles que condenavam o 25 de Abril e tudo fazendo para que algo mudasse. O MIRN ganhava muitas listas nas escolas…
Quando todos os meus colegas usavam autocolantes da AD e alguns da FRS, eu usava o autocolante ou t-shirt do MIRN ou do MN.
Nessa altura, tal como hoje, era muito perigoso ser-se nacionalista. Era um perigo diferente do actual. O perigo actual é mais sórdido, cínico e indirecto. Além da perseguição política camuflada de delito comum, há a perseguição profissional e social que condiciona e ostraciza quem se afirma nacionalista.
Nessa época o perigo era sobretudo físico. Nas manifestações, por exemplo, havia pedradas, confronto directo e mesmo tiros.
É claro que entre hoje e essa época há uma grande diferença de contexto, de problemáticas e por isso, também em vários aspecto do Nacionalismo português. A somar a esses factores, há o facto de que a geração dos nacionalistas dos anos 60 e 70 não passou testemunho aos vindouros, talvez porque a revolução, gerou um clima de medo na afirmação nacionalista e quebrou uma continuidade natural e talvez porque os alicerces do anterior regime já estavam podres e o Nacionalismo sem “alma”. O facto é que os Nacionalistas sofreram um duro golpe e um profundo trauma 30 anos mais tarde do que aconteceu em outros países europeus.
Houve, na minha opinião, um hiato grande com o pós 25 de Abril que, de certa forma, impede que muitos antigos Nacionalistas entendam os novos e vice-versa. Poucos foram, ou são, aqueles que conseguem fazer o traço de união e compreendem que para lá das circunstâncias a luta é a mesma: Nação, Identidade, Família, Trabalho, Independência Nacional…
O mundo mudou muito. A Europa e Portugal também. Os problemas políticos, sociais e de nova ordem mundial que hoje se colocam eram impensáveis há 30 ou 40 anos e os problemas de então já não se colocam hoje.
É perfeitamente natural e saudável que um Nacionalista hoje se preocupe com assuntos diferentes de há 30, 50 ou 70 anos atrás. Há coisas que deixaram de fazer sentido e outras que passaram a fazer. O problema está justamente quando se sofre de anacronismo ou de qualquer outra forma não saudável de saudosismo ou sentimento refém.
O Nacionalismo é hoje, com ontem, e como amanhã, no seu essencial, sempre o mesmo: a defesa intransigente na nossa Independência e Identidade. Esse cerne é essencial e intemporal. Fora isso, há aspectos mais ou menos acessórios, mais ou menos importantes que podem e devem mudar. Mais ainda: podem até tornar-se diametralmente opostos.
Há um outro aspecto em que o Nacionalismo permanece igual: a existência de várias correntes, sensibilidades e estratégias. Mas há uma diferença também: a existência do PNR. E só quem quer mesmo ser fracturante é que passa a vida inteira a inventar motivos e pretextos para não aderir e para criticar.

P:Poderia explicar aos nossos leitores como se processou a sua entrada para a direcção do PNR?
R:Eu sou fundador do PNR e desde esse momento da Direcção, melhor dizendo, da Comissão Política Nacional. Fui vogal da CPN desde o primeiro momento e Presidente desde Junho de 2005, sendo o militante número 2.
A minha entrada para a Direcção, deveu-se provavelmente à demonstração que dava de constância e à determinação a par de uma carga ideológica enraizada. Foi seguramente por esses motivos que os principais impulsionadores do projecto do PNR, aos quais eu não pertencia, me convidaram para aderir a esta aventura, com lugar logo na Direcção. Entre esses encontra-se o Bruno Oliveira Santos, actual Presidente da Mesa da Assembleia do PNR, militante número 1 e um dos principais responsáveis pelas bases programáticas do Partido.

P:É do conhecimento público que o José fez parte da Opus Dei. Actualmente, o que representa para si esta organização católica?
R:Eu adoptei uma máxima perante a minha posição política que é aquela expressão de Jesus: “A Deus o que é de Deus e a César o que é de César”.
Assim, a minha vida na política é uma realidade de intervenção e que por esse motivo pertence à esfera da vida pública. Se dou esta entrevista, não é por ser o “Zé”, mas sim por ser a cara visível do partido nacionalista em Portugal. Pelo contrário, a vida espiritual pertence à esfera do privado.
São planos distintos que coexistem e, não formando compartimento estanques e esquizofrénicos, não devem também ser objecto de mistura promíscua. As minhas crenças religiosas pertencem à minha dimensão pessoal que, tal como a vida cristã de quem a segue, é feita de avanços e recuos, de sucessos e de quedas. De um permanente começar e recomeçar.
É verdade que pertenci muitos anos à Opus Dei e que já não pertenço. São as tais contingências da vida pessoal. Mas não é por ter saído que vou dizer mal ou mudar de ideia acerca desta ou daquela instituição. Simplesmente aconteceu.
Dentro da Igreja Católica, que é uma só, também é natural que existam diversas sensibilidades. A Opus Dei é uma Prelatura dentro da Igreja Católica onde um crente encontra uma sólida formação doutrinal e um plano de vida espiritual exigente. É assim que vejo e sempre vi esta instituição da Igreja. Por isso, actualmente, representa para mim mesmo que sempre representou. Apenas já não faço parte dela.

P:Como católico, sente-se satisfeito com a actual relação entre o Estado e a Igreja?
R:Como disse anteriormente, acho que a política e a religião não se devem misturar. O Estado deve ter em conta o bem-estar do seu povo e o progresso e independência da sua nação. O Estadista governa para católicos e não católicos, para agnósticos e ateus.
A Igreja deve levar a sua mensagem aos homens pensando no aperfeiçoamento de cada um e na sua relação com Deus. Deve ter preocupações com a dimensão transcendente e espiritual. O Eclesiástico dirige-se ao seu povo e não se deve meter nas questões de organização política e temporal.
Portugal, sendo um país Europeu, pertencente à civilização Ocidental Cristã, deve, no meu entender, preservar essa identidade, esse património sócio cultural e nessa medida privilegiar e acarinhar essa mesma realidade que faz parte das nossas raízes enquanto Nação.

P:Na sua opinião, qual é a maior ameaça à independência nacional?
R:São tantas as ameaças!
Mas numa palavra diria que essa ameaça é o “Mundialismo”; essa nova ordem mundial que quer construir um mundo sem fronteiras, multicultural, no qual a economia prevalece sobre a política, as nações, os povos e as pessoas…
Esse mundialismo é por essência o inimigo do nacionalismo e da independência nacional.
Mas ele manifesta-se das mais diversas formas como disse. Sejam elas, União Europeia, abolição das fronteiras, perda da moeda, “Acordo” Ortográfico, imigração, colonização cultural que nos é imposta e por aí fora.

P:No discurso nacionalista é frequente ouvirmos dizer que Portugal está dominado pela Esquerda. Concorda com esta afirmação? Em caso afirmativo, poderia explicar em que consiste essa dominação?
R:Não só concordo como não me canso de o dizer.
Como se sabe, em rigor ideológico, o nacionalismo não é refém da direita nem da esquerda, mas antes está para alem dessa dicotomia. Mas, assumindo essa terminologia por uma questão de linguagem, é claro que afirmo que a esquerda - jacobina, maçónica, marxista - há muito que domina em Portugal. Essa mesma esquerda que se encarregou de destruir Portugal no período conturbado de 1910-26 é aquela que nos domina pelo menos culturalmente desde a década de 60 e, de forma total desde o 25 de Abril.
A vitória da esquerda, não se deu em Portugal com a derrota dos Regimes Nacionalistas no final da 2ª Guerra Mundial, mas sim no fatídico 25 de Abril de 1974. Contudo, o seu domínio já era uma realidade antes desta data.
A esquerda fez um trabalho aturado, de fundo, consistente, ao longo de anos e ganhou claramente no campo cultural. As forças Nacionalistas do Regime, pelo contrário, preocupadas em lutar na defesa do Império, e minadas por outro lado, pelos medíocres que cá ficaram - que também os havia! - deixaram cair o combate cultural e político.
A esquerda, como dizia, foi ganhando progressivamente os lugares chave no combate cultural e académico, consolidando assim as bases para uma futura e duradoura vitória. Depois, com a revolução, veio o domínio político e o controlo total: o sistema.
É esse domínio cultural, propagandístico e político que, por exemplo, promove o assassino Che Guevara como herói e injuria o Patriota Salazar como sendo um malfeitor; que promove nas artes e cultura todos os esquerdistas – com e sem valor – e ignora os que o não são, também com e sem valor; que dá muito mais voz, em quantidade e qualidade, em programas televisivos, aos defensores das grandes bandeiras esquerdistas; que, criando uma teia de pensamento único politicamente correcto, consegue manietar as mentes menos combativas que se possam opor-lhe; que ocupa os lugares chave da política e comunicação social; que fala em “direita”, referindo-se a uma caricatura de direita que é permitida pela esquerda dominante.

P:Caso seja eleito deputado, que diferença fará a sua presença na Assembleia da República?
R:Toda!
Bastará a simples presença de um partido Nacionalista, anti-sistema, que não alinha com o partido único de cinco secções que existe de momento, para lhes criar um grande sarilho institucional. Por outro lado, a visibilidade e tempo de antena subiriam claramente, o que faria passar a mensagem do PNR de uma forma nunca vista. Também, a passagem de partido sem representação parlamentar para a sua representação, faria muitos viciados no voto (in)útil passar a votar no partido com que mais se identificam e não noutro que dê mais “garantias” de sucesso. Por fim, a postura firme de denúncia de todas as pouca vergonhas, trariam os frutos da coragem e da coerência, levando a que mais pessoas acreditassem.

P:Um dos problemas que mais preocupam a juventude portuguesa é o desemprego. Que propostas defende para inverter os números alarmantes de jovens sem emprego ou com trabalho precário?
R:Não vale a pena entrar em elencos demagógicos de medidas a metro. Não contem com o PNR para esse campeonato de pacotes de medidas que mantêm tudo na mesma.
Nós não apresentamos esta ou aquela medida, baseado em números, dados e estatísticas, mais ou menos marteladas conforme as conveniências. Pelo contrário, falamos em grandes vontades políticas e em traves mestras da actuação política que nos deve orientar.
As nossas medidas seriam tão infrutíferas como as dos outros se as grandes linhas macro políticas se mantiverem.
Por isso, para criar o emprego jovem, que lhes permita construir um futuro com alguma segurança, defendemos, tal como em outras áreas, medidas claramente proteccionistas. Ou seja, precisamente o contrário do que o Presidente da República defendeu há dias na Alemanha…
Defendemos que se devem dar fortes incentivos e benefícios fiscais às empresas que empregarem jovens, sobretudo àquelas que os conseguirem fixar no interior e, pelo contrário, penalizar e agravar a fiscalidade das empresas que contratem mão-de-obra imigrante. Defendemos o incremento de protocolos entre empresas portuguesas e universidades ou escolas profissionais (que devem ser mais implementadas) permitindo uma maior segurança na aposta nos respectivos cursos.
Se não for o Estado português a proteger os seus jovens e desse modo investir no futuro, ninguém mais o fará. São necessárias medidas proteccionistas, caso contrário vamos assistir a um surto cada vez maior de emigração juvenil e a um envelhecimento progressivo da população, com consequente falência do Estado.

P:Numa entrevista à RTP afirmou que preferia a segurança à liberdade. Acha que há liberdade a mais e/ou segurança a menos?
R:Não foi rigorosamente assim. Esse foi um excerto de uma peça muito má da RTP, que se encarregou de descontextualizar algumas afirmações minhas.
Eu disse, e repito, que o conceito de liberdade é multifacetado. Ninguém é totalmente livre, nem que seja pelo simples facto de estar sujeito aos compromissos que livremente assumiu, aos horários, aos deveres e às limitações alheias à sua vontade, desde as leis à falta de saúde…
O ser humano só pode aspirar à sua total liberdade interior, a tal dimensão espiritual, pois a liberdade exterior, dependendo de inúmeras variáveis, nunca é plena.
Por isso não acho que haja liberdade a mais, pois sendo a liberdade um bem, não creio que possa haver bem em excesso…
Acho, isso sim, é que a liberdade pode ser facilmente adulterada e cair em libertinagem, pois o exercício da liberdade sem a respectiva responsabilidade é aí que vai parar. Acho também que em nome da liberdade se cometem muitos crimes e desde logo, o primeiro crime é o de se mentir às pessoas dizendo que há liberdade disto e daquilo, quando na verdade não há coisíssima nenhuma. Há sim uma ilusão hipócrita de liberdade, conferida por um pluralismo de partidos e órgãos de comunicação social, mas que dá liberdade apenas a quem pensa como eles… A liberdade não está acessível a todos. Longe disso!
É neste enquadramento que eu disse que defendo que a primeira das liberdades, a mais importante, é a segurança das pessoas. Não adianta falarem em liberdades várias, se as pessoas não têm sequer condições para livremente circularem com a sua família, nas suas ruas. Essa grande liberdade, chamada segurança, tínhamo-la, na “longa noite” do Estado Novo e perdemo-la com a “libertadora” abrilada.

P:Os meios de comunicação social têm veiculado nos últimos anos diversos casos nos quais governantes portugueses aparecem ligados a escândalos de corrupção. Como é que se combate a corrupção de Estado?
R:Apenas com vontade política. Com a Política e a Justiça a actuarem com visão Nacional. Não vale a pena inventar-se formulas já inventadas…
Se há corrupção de Estado (e há muita!), é porque estamos imersos numa lógica de compadrios, de tráfico de influências e de grupos de interesses inconfessáveis que agem nos bastidores. Então isso tem que ser tudo para acabar! Num Estado Nacional tem que haver sentido de serviço público e punição exemplar para a prevaricação, venha ela de onde vier.

P:Que mensagem deixaria aos eleitores portugueses que ainda não decidiram em quem vão votar?
R:Apenas isto: se acreditam nos mesmos de sempre, que nos andam a levar à desgraça há 35 anos, então votem neles e tenham o que merecem. Se, pelo contrário, estão profundamente descontentes e desencantados, então há que votar na única verdadeira alternativa: o PNR.
Se suceder que até concordam no essencial com o PNR, mas não se decidem porque encontram este ou aquele aspecto, assim ou assado, então depois não se continuem a queixar.
Pode parecer uma mensagem seca e agressiva, mas na verdade não estou talhado para o discurso de caça ao voto que passa pelas mentirolas demagógicas. Acho que está mais que na hora das pessoas abrirem os olhos e escolherem: querem continuar este caminho de descalabro apostando nos mesmos ou demitindo-se com a abstenção, ou querem apostar, mesmo que com dúvidas e o respectivo benefício, no PNR, que tem discurso claro e ímpar acompanhado de uma vontade ferra e determinação inquebrantável?
Cada um que escolha…

FONTE

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito boa a entrevista.
Força PNR!